Ministro dos Direitos Humanos recebe ex-presos políticos e familiares de mortos e desaparecidos pela ditadura militar
29 de março de 2023 - 06h01
Por Lúcia Rodrigues
Cerca de 150 familiares de mortos e desaparecidos políticos da ditadura militar se reuniram nessa terça-feira, 28, com o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, em Brasília.
O encontro registrou relatos emocionados de parentes das vítimas da ditadura sobre as agruras impostas pela repressão militar aos opositores do regime dos generais.
“Causou impacto no Silvio. É impossível não se comover diante daqueles relatos”, enfatiza o ex-preso político e poeta Hamilton Pereira, o Pedro Tierra, que participou da reunião.
Ele conta que os familiares também reivindicaram que as 29 recomendações do relatório da Comissão Nacional da Verdade sejam colocadas em prática.
A agenda prossegue nesta quarta, 29, com uma audiência entre o ministro e anistiados políticos. O evento faz parte da Semana Nunca Mais, organizada pelo Ministério, para relembrar as atrocidades praticadas nos Anos de Chumbo.
Durante o encontro de ontem, Almeida também criticou a extinção da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos pelo governo de Jair Bolsonaro.
“A Comissão de Mortos e Desaparecidos não é resultado apenas da vontade de um governante, mas sim de uma política de Estado do Brasil amparada pela lei e tratados internacionais.”
E antecipou que o presidente Lula deve assinar em breve o decreto que restitui o funcionamento da Comissão.
“É dever do Estado continuar procurando pelos desaparecidos. Estamos prestando contas ao futuro do país. Estamos estabelecendo uma forma de garantir a justiça e a memória”, ressaltou o ministro.
A preservação da memória desse período sombrio também é preocupação das vítimas do regime, para impedir que o arbítrio volte a se repetir.
Por isso, medidas como a mudança do nome da ponte do general ditador Costa e Silva para o do ex-presidente da UNE Honestino Guimarães, no final do ano passado pela Câmara Legislativa do Distrito Federal, devem ser comemoradas como um avanço importante da luta por memória, verdade, justiça.
“O Brasil voltou a encarar seu rosto no espelho da História”, enfatiza Hamilton, ao saudar a inflexão na política de direitos humanos verificada com a vitória de Lula.
A frase também sintetiza a importância da homenagem ao desaparecido político Honestino Guimarães, que teria completado 76 anos nessa terça, se não tivesse sido morto pela ditadura militar em 1973.
“Honestino (então estudante de Geologia da UnB e presidente da UNE) dava rosto a rebeldia movida pelos ideais de 68. Ele encarnou essa geração como nenhum outro”, frisa.
Organizada por coletivos da capital federal, a manifestação que ocorreu na segunda-feira, 27, na Ponte, e reuniu atívistas de direitos humanos, além de representantes do DCE (Diretório Central dos Estudantes) da UnB, a Universidade de Brasília, a quem Honestino Guimarães dá nome, também serviu de momento de acolhimento aos familiares de mortos e desaparecidos e ex-presos políticos que foram a Brasília para participar das reuniões com o ministro, segundo Hamilton.
Ele destaca que a manifestação foi permeada por canções do período. “Começou com a música Pesadelo (de Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro), que logo na primeira frase diz: “Quando o muro separa, uma ponte une.”
A trilha musical passou por Caetano Veloso, Chico Buarque e até pelo brasiliense Renato Russo, sendo encerrada ao som de Sonho Impossível, imortalizada na voz de Maria Bethânia.
Reparação
Nesta quinta, 30, também será realizada a primeira reunião da Comissão da Anistia, após ter sido reestruturada pelo governo Lula.
Na ocasião devem ser analisados casos como o do deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP), preso e torturado durante a ditadura, e que teve o pedido de indenização negado quando a Comissão era controlada por membros da extrema-direita indicados por Bolsonaro.