Apoie o holofote!
Busca Menu

DIA DE NATAL

Há 50 anos, comandante da Guerrilha do Araguaia era executado pela ditadura militar

Maurício Grabois fichado em sua primeira prisão pela polícia política em 1939. Foto: Arquivo Público do Estado de SP

25 de dezembro de 2023 - 12h11

Por Lúcia Rodrigues

Era o Natal de 1973, quando as forças de repressão da ditadura militar executaram o comandante da Guerrilha do Araguaia, Maurício Grabois, no sul do Pará, onde cerca de 70 guerrilheiros do PCdoB, o Partido Comunista do Brasil, se instalaram para derrotar o regime ditatorial.

Filho de judeus ucranianos, Grabois era o único sobrevivente dos três comandantes das principais guerrilhas que combateram a ditadura dos generais nos anos 1960 e 1970.

Carlos Marighella, da ALN, a Ação Libertadora Nacional, havia sido executado na capital paulista em novembro de 1969 e Carlos Lamarca, da VPR, a Vanguarda Popular Revolucionária, em setembro de 1971 no interior da Bahia.

Com a guerrilha urbana praticamente dizimada, os militares redirecionaram suas baterias para o Araguaia, na captura dos guerrilheiros do PCdoB.

O primeiro embate entre a guerrilha liderada por Grabois e os soldados da ditadura ocorreu em 12 de abril de 1972.

O filho de Maurício, André Grabois, que comandava o Destacamento A da Guerrilha, seria executado dois meses antes do pai, em outubro de 1973. E o genro, Gilberto Olímpio Maria, seria morto com ele no Natal de 1973.

Os corpos dos três combatentes e os dos demais guerrilheiros do Araguaia nunca foram devolvidos pelas Forças Armadas às suas famílias.

Eles continuam engrossando a lista de desaparecidos políticos da ditadura militar, apesar da condenação do Brasil pela Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA, a Organização dos Estados Americanos, determinar, em 2010, a localização dos restos mortais de todos os guerrilheiros do Araguaia e a consequente devolução às suas respectivas familias.

Graças à luta de familiares de mortos e desaparecidos políticos, os restos mortais dos guerrilheiros Bergson Gurjão Farias e Maria Lúcia Petit da Silva foram localizados, em 1996, no cemitério de Xambioá, no Pará. Mas os irmãos de Maria Lúcia, os guerrilheiros Jaime Petit da Silva e Lúcio Petit da Silva permanecem desaparecidos, assim como os demais combatentes.

Em dezembro do ano passado, a Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos foi extinta por Bolsonaro. Até agora, mais de um ano depois, não voltou a ser reinstalada pelo governo Lula.

A Comissão tem justamente como um de seus objetivos, contribuir para a elucidação de casos como os dos guerrilheiros do Araguaia.

Uma história de combates

O protagonismo exercido pelo baiano de Salvador Maurício Grabois não foi só entre os liderados nas matas do sul do Pará.

Muito antes disso, o filho de mascate, nascido em 2 de outubro de 1912, que chegaria ao Araguaia encarnando o papel profissional vivido pelo pai, enfrentaria a ditadura Vargas.

Após concluir os estudos no Ginásio da Bahia, onde conheceu Marighella, Grabois mudou-se para o Rio de Janeiro aos 19 anos, para se preparar para ingressar na Escola Militar do Realengo.

Foi no Rio que ele se aproximou do marxismo leninismo. Entrou no colégio militar em 1931 e no Partido Comunista do Brasil, em 1932. No ano seguinte, foi expulso por sua atividade política.

Em 1935 participou da organização do levante da ANL, a Aliança Nacional Libertadora, junto com os demais camaradas comunistas que enfrentavam a ditadura Vargas.

Passou a ser perseguido pelo regime, mas não diminuiu a intensidade da luta. Engajou-se no enfrentamento ao nazi-fascismo.

Foi preso duas vezes, a primeira em 1939 e posteriormente em 1941, quando permaneceria 15 meses atrás das grades.

Deputado constituinte

Com a retomada da democracia, foi deputado constituinte em 1946 em uma bancada comunista de 15 parlamentares: 14 deputados e o senador Luiz Carlos Prestes.

Nesse processo, Grabois assumiu a liderança da bancada na Câmara, que tinha entre seus nomes mais proeminentes Marighella, João Amazonas, Pedro Pomar e Jorge Amado.

Passaria a viver na clandestinidade com seus camaradas após as cassações de seus mandatos e a colocação do Partido na ilegalidade, em 1947, no governo do marechal Eurico Gaspar Dutra.

Com o golpe militar de 1964, a clandestinidade de suas ações prosseguiram. Grabois mudou-se para a região do Araguaia no final de 1967. Resistiu aos verdugos por seis anos.

Deixou um legado de lutas na defesa dos trabalhadores e dos mais pobres, além da mulher, Alzira Grabois, da filha, Victória Lavínia Grabois, e dos netos Igor Grabois, filho de Victória e Gilberto Olímpio Maria, que acaba de lançar um livro com os textos mais importantes do avô, e João Carlos Grabois, filho da também guerrilheira do Araguaia Criméia Alice Schmidt de Almeida com André Grabois.

 

 

 


Comentários

Nenhum comentário ainda, seja o primeiro!

Deixe seu comentário

Outras matérias