Apoie o holofote!
Busca Menu

HISTÓRIA DO BRASIL

Ex-preso político mostra para população principal centro de tortura da ditadura militar

Escada do antigo DOI-Codi de São Paulo que dava acesso às salas de tortura de presos políticos durante ditadura militar. Foto: Lúcia Rodrigues

27 de janeiro de 2023 - 16h41

Por Lúcia Rodrigues

Em uma época em que o fascismo tenta impingir uma narrativa para apagar da história do Brasil os horrores praticados pela ditadura militar contra seus opositores, o projeto desenvolvido pelo Núcleo de Preservação da Memória Política se torna ainda mais importante.

Desde 2017, o diretor do Núcleo e ex-preso político, Maurice Politi, vem dando verdadeiras aulas de história sobre os Anos de Chumbo, no local onde funcionou o principal centro de tortura da ditadura militar, o DOI-Codi de São Paulo, para pessoas que querem conhecer a realidade daquele nefasto período.

O projeto capitaneado por Politi consiste em apresentar o centro de tortura e explicar o que acontecia lá dentro. Já atingiu aproximadamente 1.500 pessoas ao longo desses anos. A visita guiada só foi interrompida em 2020 e 2021, fase mais aguda da pandemia de Covid-19.

As apresentações ocorrem uma vez por mês, em data divulgada pelo site e pelas redes sociais do Núcleo Memória. É preciso fazer um agendamento prévio, chegar no horário definido, sentar e  acompanhar os relatos de Politi, que passou 28 dias naquele inferno, no início dos anos 1970.

“As visitas ajudam a população, principalmente os jovens, a conhecerem a realidade da ditadura, nesse lugar simbólico que foi o DOI-Codi de São Paulo.”

Ao final da apresentação, todos sobem uma escada que dá acesso ao local onde funcionavam as salas de tortura em que os presos políticos eram submetidos a choques elétricos no pau de arara e na cadeira do dragão.

Não há mais nenhum instrumento de tortura no local, apenas as marcas do sofrimento registradas no ar pesado que se sente ao percorrer as instalações.

Também é possível conferir a partir do pátio, o sobrado onde o então comandante do DOI-Codi, o torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra, vivia com a família ao lado do local onde torturava opositores da ditadura, inclusive mulheres grávidas.

Em torno de 50 pessoas foram mortas sob tortura no DOI-Codi paulista. O caso mais conhecido é o do jornalista Vladimir Herzog, ocorrido em 25 de outubro de 1975.

“De acordo com a Comissão da Verdade, foi o lugar onde houve mais mortes, mais vítimas. O DOI-Codi de São Paulo é a nossa pequena Esma (Escola Mecânica da Armada, principal centro de tortura da ditadura militar argentina)”, ressalta Politi.

O próximo encontro está agendado para este sábado, 28, às 10h. O antigo DOI-Codi fica nos fundos da 36ª Delegacia de Polícia, na rua Tutóia, 921, ironicamente localizado no bairro do Paraíso.

Tombamento

Há exatos nove anos, em 27 de janeiro de 2014, o Condephaat, o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, tombava o local.

Quase uma década depois, o projeto que visa transformar o antigo centro de tortura em um memorial em homenagem às vítimas da repressão que passaram pela masmorra, ainda não foi efetivado, apesar da luta incessante de ex-presos políticos como Politi.

Ele explica que há inclusive uma ação civil pública movida pelo Ministério Público do Estado para pressionar para que o espaço se torne um centro de memória, mas o caso agora está emperrado na Secretaria da Segurança Pública. “Disseram que até as eleições se resolveria, mas não se resolveu”, lamenta.

A preocupação aumenta, porque essa Secretaria passou a ser comandada pelo ex-policial militar da Rota, o deputado federal bolsonarista Guilherme Derrite. “A gente está muito preocupado, porque inclusive o local está se deteriorando”, adverte Politi.

Segundo ele, antes da vitória do bolsonarismo em São Paulo, a Secretaria já havia concordado em ceder recursos para a transformação do espaço em um centro de memória em homenagem às vítimas que passaram pelo DOI-Codi.


Comentários

Marcia Regina Viotto

27/01/2023 - 17h27

Importantissima essa luta, manter a pressão.mais que isso montar um GT para ir as escolas e dar aulas sobre o que foi a ditadura. De certo onde houver professores democráticos abrirão o espaço.

Cátia Lopes Ribeiro

27/01/2023 - 17h42

Imagino que o meu falecido pai deva ter subido essa escada muitas vezes.

Vera Maria Taranto

27/01/2023 - 17h45

Tenho interesse em fazer a visita e ouvir a história narrada. Moro no Rio de Janeiro e necessitaria me deslocar, por isso gostaria de saber das datas com antecedência. Temos que fazer nosso dever de casa e expor os fatos que, abafados, acabam por serem ignorados com possibilidade real dw que se repitam.

Diva santana

27/01/2023 - 19h56

Todo apoio a valorosa luta dos combatentes da democracia, da memória, da verdade, da Justiça e da reparação. E de fundamental importância a construção e aperfeiçoamento de memóriais que preservam a luta e memória do povo brasileiro.

Marilia Barros de Aguiar

27/01/2023 - 20h04

Não sei como fazer, mas acho importante fazermos um abaixo assinado para que o local não se perca com sua história. Ditadura e tortura, NUNCA MAIS!!!!!!

Maurice Politi

27/01/2023 - 22h27

Resposta para Vera Maria Taranto:
Obrigado pelo seu interesse.
As datas das visitas para todos os meses do ano 2023 estarão, a partir de terça feira dia 31/1 , no nosso site na seção “agenda” .
Pedimos que voce consulte o site http://www.nucleomemoria.com.br e/ou escreva para nucleomemoria@nucleomemoria.com.br . Obrigado

Paula

27/01/2023 - 22h32

Muito importante e seria muito bom passar para os alunos , do que foi realmente a Ditadura Militar

Eliete Ferrer

28/01/2023 - 00h05

Temos que preservar as nossas memórias para que o povo brasileiro conheça a verdadeira História do Brasil. Não podemos repetir os mesmos erros do passado.
País sem passado, país sem memória é um país sem futuro.

Carlos de Figueiredo

28/01/2023 - 09h26

Iniciativa importantíssima. Nossos companheiros e vários amigos que passaram por esse centro de horrores, torturados, assassinados e os que conseguiram escapar não devem ser esquecidos. A moçada mais jovem deve ter esse conhecimento. Vale mencionar os diversos centros de tortura e torturadores espalhados pelo país, que ainda pratica a tortura, em parte devido a não punição dos torturadores. Ótima iniciativa!

Vera Vital Brasil

28/01/2023 - 17h21

Importantíssima iniciativa do Núcleo Memória. A experiencia testemunhal do apresentador tem um valor especial. Visitei Centros de Memória no Chile em que testemunhas nos guiaram pelo espaço. A força e coragem da Verdade! Parabéns NM!

Maria dos Milagres Pinto e Silva

29/01/2023 - 20h51

Que tudo seja feito pela preservação da memória de todos que lutaram pela democracia e pela liberdade de política dos trabalhadores da cidade e do campo.
Tortura nunca mais!

Deixe seu comentário

Outras matérias