Cassação de vereador que protestou em igreja de Curitiba contra racismo será votada nesta quinta, 19
16 de maio de 2022 - 14h56
Por Lúcia Rodrigues
O vereador Renato Freitas (PT-PR) pode perder o mandato que conquistou nas urnas nesta quinta-feira, 19. A sessão que vai decidir o futuro político dele está marcada para às 13h, no plenário da Câmara Municipal de Curitiba, no Paraná.
A votação é muito desfavorável para o petista. A base do prefeito Rafael Greca (União Brasil), que já teria pedido a cassação de Renato nos bastidores, tem em torno de 25 vereadores. Para cassá-lo são necessários 20 votos.
A oposição tem apenas três parlamentares. Além de Renato, que não vota no processo, as vereadoras do Partido dos Trabalhadores Carol Dartora e Professora Josete.
Há ainda menos de 10 vereadores independentes de um total de 38 parlamentares que compõem a Câmara.
Muitos vereadores da base de Greca são ligados a igrejas evangélicas que pressionam pela cassação de Renato.
Se a punição for confirmada, será a primeira vez que um vereador será cassado na história da Câmara curitibana.
Renato é negro e de origem periférica. Seu mandato tem atuado na defesa dos pobres e negros. Se perder o mandato ficará inelegível por 10 anos.
Acusação
No dia 5 de fevereiro, o vereador participou de uma manifestação antirracista em frente à Igreja Nossa Senhora do Rosários dos Homens Pretos, no centro de Curitiba, para denunciar as mortes violentas do congolês Moïse Kabagambe e de Durval Teófilo. Ambos eram negros e moradores do Rio de Janeiro.
O protesto foi encerrado dentro da igreja, quando a missa já havia acabado. Mas o fato foi explorado à exaustão por fake news disparadas nas redes sociais por bolsonaristas, capitaneados pelo próprio presidente da República, Jair Bolsonaro.
Na Comissão de Ética da Casa, Renato foi condenado à pena máxima, por cinco votos a dois, acusado de ter liderado a manifestação e ter participado de um ato político dentro da Igreja.
Ele nega que tenha encabeçado o protesto e pediu desculpas aos que se ofenderam com o ato. Mas reforça que foi uma atividade antirracista, para denunciar as mortes de dois homens negros.
No dia 28 de março, a Arquidiocese de Curitiba emitiu nota reconhecendo a legitimidade da manifestação.
“A movimentação contra o racismo é legitima, fundamenta-se no Evangelho e sempre encontrará o respaldo da Igreja. Percebe-se na militância do Vereador o anseio por justiça em favor daqueles que historicamente sofrem discriminação em nosso país. A causa é nobre e merece respeito.”
Essa igreja foi construída no século 18 por escravos negros. O texto da Arquidiocese também se posiciona contra a cassação do vereador.
“A Arquidiocese se manifesta em favor de medida disciplinadora proporcional ao incidente. Ademais, sugere que se evitem motivações politizadas e, inclusive, não se adote a punição máxima contida no Código de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara Municipal de Curitiba.”
Renato aposta na mobilização das redes para evitar a cassação. Para esta terça-feira, 17, está agendado um tuitaço com as hashtags #RenatoFica e #JuntxsPorRenatoFreitas.