Greve de 1917: há 105 anos polícia matava sapateiro espanhol que protestava por direitos
09 de julho de 2022 - 05h15
Por Lúcia Rodrigues
O 9 de julho da classe trabalhadora não é o da farsa da revolução paulista de 1932, mas o do assassinato do sapateiro espanhol, José Martinez, pela polícia durante a histórica greve de 1917 que levou milhares de trabalhadores para as ruas de São Paulo em protesto por direitos.
O fim das jornadas extenuantes de trabalho, da estagnação dos salários e principalmente a luta contra a carestia eram as reivindicações de trabalhadores e trabalhadoras que lotaram as ruas da capital paulista naquele período.
O protesto contra o aumento do custo de vida foi o estopim do movimento e começou meses antes da consolidação da greve geral, reprimida de forma feroz pelas forças de segurança a mando dos patrões.
As justas reivindicações ampliaram a greve como rastilho de pólvora pelas fábricas da cidade, especialmente as concentradas na Mooca, importante bairro fabril localizado na zona leste.
O fortalecimento do movimento anarcossindicalista que deu origem à primeira greve geral no país e atemorizou a classe dominante foi o alicerce para a construção do movimento sindical brasileiro.
Assassinato
No dia 9 de julho de 1917 a repressão executaria o sapateiro anarquista José Martinez, de 21 anos, durante a passeata das trabalhadoras do cotonifício Crespi que marchavam até o cotonifício Maria Zélia, para propor que as colegas cruzassem os braços também.
Seu assassinato gerou comoção e revolta entre os trabalhadores, que protestaram contra sua morte e estenderam o movimento pela cidade.
No plano internacional, Lenin gestava a Revolução Bolchevique que meses depois derrubaria o czarismo na Rússia e inauguraria um governo cujo marco principal seria a defesa da classe trabalhadora.
No Brasil, sete anos mais tarde, em 1924, a repressão voltaria a atacar trabalhadores em greve em São Paulo, com bombardeios que feriram e mataram.
A elite tenta apagar da história as duas datas de luta dos trabalhadores, enquanto faz loas e transforma a farsa do 9 de julho de 1932 até em feriado do Estado de São Paulo.
Vivas à resistência do 9 de julho de 1917 e 1924. Ignoremos o 9 de julho de 1932, pelo bem do Brasil.