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8 DE MARÇO

Feminicídios causam dois mil órfãos por ano no Brasil, revela dirigente feminista

Mulheres protestam contra governo Bolsonaro nas ruas da capital paulista. Foto: Sueli Scutti

08 de março de 2022 - 14h32

É pela vida das mulheres que dizemos Bolsonaro nunca mais!

 

Por Claudia Rodrigues

Este março das mulheres nos impulsiona mais uma vez às manifestações de rua, num momento em que, embora ainda estejamos sob o impacto da pandemia do coronavírus, é urgente a retomada de protestos massivos e unitários de amplas forças que compõem o movimento de mulheres em todos os cantos do Brasil, com reforço dos movimentos sindical, comunitário, estudantil e tantos outros.

Motivos não nos faltam. Aliás, o próprio lema do Dia Internacional das Mulheres em 2022 já embute pautas da mais alta relevância: “Pela vida das mulheres: Bolsonaro nunca mais! Por um Brasil sem machismo, sem racismo e sem fome!”.

O efeito devastador do governo bolsonarista sobre a vida das brasileiras e dos brasileiros é mais que suficiente para nos mantermos em constante mobilização.

Desde o início desse governo, observamos uma regressão jamais vista em conquistas civilizacionais. Essa gente desestruturou o que havíamos obtido de mais avançado em políticas públicas e direitos sociais, trabalhistas, previdenciários, humanos, culturais, científicos, educacionais e tantos outros avanços pelos quais o nosso povo lutou durante décadas e conquistou com muito suor.

Mas sobretudo o bolsonarismo destruiu a nossa paz, interior e exterior, e consumiu as nossas melhores energias. É um governo que nos deixa exauridos, que reduz a força que move o ser humano em direção aos sonhos.

Além disso, o presidente e seus ministros nos envergonham, causam repulsa, provocam espanto mundo afora e desprezam a vida da sua população, como se vê na crise da pandemia.

E se isso tudo não bastasse, eles nos tiram aquilo que é básico à dignidade humana: emprego, renda, moradia, comida.

Os milhões de brasileiros que estão passando fome não são obra do acaso. Há um culpado facilmente identificável. A política econômica desse (des)governo causou empobrecimento generalizado e conduziu milhões de trabalhadoras e trabalhadores à miséria.

Os preços da cesta básica, do gás e da energia elétrica estão impagáveis. Quem consegue sustentar a casa com essa carestia? A culpa é desse governo que favorece os ricos e menospreza os pobres. E não adianta transferir a culpa para a Covid-19, porque antes da chegada do vírus o país já vivia uma profunda crise econômica e social.

Se não forem suficientes as tristes imagens da miséria exibidas frequentemente em reportagens de televisão e jornal, basta circular pela Avenida Paulista, outrora símbolo da pujança econômica paulistana, e verificar a quantidade de pessoas, principalmente mulheres com suas crianças, que ali chegam diariamente, na esperança de conseguir uns trocados para não morrer de fome.

O entorno do Parque Trianon, um dos pontos marcantes daquela avenida, que já hospedou a burguesia de São Paulo, transformou-se em local de “moradia” para pessoas despejadas do seu direito elementar a um teto.

É o retrato escancarado do abandono a que milhares de seres humanos foram jogados pelo presidente da República, o governador do Estado e o prefeito da cidade. Calcula-se que a capital paulista tenha mais de 30 mil cidadãos vivendo ao relento.

Costumamos dizer que a pobreza é feminina. Não à toa. E não apenas porque as mulheres quase sempre são as primeiras demitidas, como vimos agora na pandemia, ou as que nem chegam a ser contratadas numa disputa de emprego.

Mas porque a pobreza se reflete diretamente e invariavelmente dentro de casa, na família, onde na maioria das vezes é a mulher que se ocupa e se preocupa com o sustento dos filhos, dos idosos, dos doentes. É ela que sofre silenciosamente a penúria da falta de comida, do gás e do remédio.

A miséria é uma das faces das violências que acometem as mulheres brasileiras. O machismo é outra, que mata diariamente. E já percebemos que as medidas protetivas previstas em lei, cada vez mais expedidas pela Justiça e tão necessárias no arcabouço legal de proteção às mulheres, não são suficientes para preservar a integridade física de 100% das vítimas de abusos e agressões de todo tipo.

Os feminicídios não só tiram a vida das mulheres como deixam dois mil filhos órfãos todos os anos no Brasil, aos quais se somaram recentemente milhares de crianças e jovens que perderam pai, mãe ou ambos os genitores para a Covid-19.

O mais perverso da situação é que, entre 2019 e o primeiro semestre de 2021, o ministério incumbido das políticas para mulheres deixou de gastar um terço de sua verba, em ações que, entre outras finalidades, se destinavam a prevenir a violência doméstica e acolher as vítimas.

O racismo também mata, discrimina, alija, desestabiliza. E parece cada vez mais em alta no país, quando vemos cenas assombrosas exibidas na televisão ou na internet. Esses casos que tomam dimensões midiáticas ocorrem ao mesmo tempo que se convive com o racismo “invisível”, aquele que barra a mulher negra ou o homem negro na entrevista de emprego, na vaga do filho na creche, na hora de entrar no táxi, no momento que vai ao supermercado e em tantas outras situações lamentavelmente corriqueiras.

Por outro lado, essa era da comunicação instantânea (e vigiada) permite que muitos casos se tornem públicos, pelas redes sociais, embora ainda sem a força indispensável para o combate efetivo ao racismo entranhado sobre o qual a sociedade brasileira se estruturou. O mesmo que todos os dias obriga mães em favelas a enterrar seus filhos vítimas da famigerada “guerra às drogas”. Até quando?

Todas essas violências seculares no país tomaram proporção mais escandalosa a partir do momento que o bolsonarismo emergiu do esgoto e galvanizou pensamentos e comportamentos os mais grotescos, cruéis, ardilosos, vis e insanos de uma parte da sociedade.

O discurso e a prática bolsonarista “autorizaram” crimes de toda espécie. E as vítimas preferenciais, como de hábito nesse tipo de cenário, são as mulheres, as crianças, os pobres, os negros e outras parcelas da população mais fragilizadas em termos de garantias óbvias de cidadania.

É possível mudar isso? Sim! O Brasil não se define por essa gente que está no governo central e em vários governos estaduais e municipais. Já experimentamos momentos de progresso, de civilidade, de respeito à vida, e nem faz tanto tempo.

O povo brasileiro quer tranquilidade para viver, ter seu emprego, pagar suas contas, morar bem, estudar, viajar. É o mínimo de uma existência digna.

Os movimentos sociais, as entidades representativas, os partidos democráticos e progressistas, as organizações populares e todos que anseiam mudar o país têm neste ano eleitoral uma oportunidade essencial para elevar a consciência coletiva, unir forças e apresentar um plano mínimo de recuperação econômica, social, moral e cultural do país. Que nos tire desse estado de tristeza e marasmo e nos devolva a autoestima e a esperança.

Lançamos o chamado “pela vida das mulheres”,  vida em todos os sentidos, porque temos a noção de urgência e a capacidade de realização tão necessárias neste momento. Nosso vigoroso movimento #EleNão, iniciado em 2018 e infelizmente derrotado à época, demonstra o nosso potencial de resiliência e organização, que será posto à prova novamente em 2022 contra o presidente que representa tudo de ruim que estamos atravessando.

Mais uma vez, assumiremos nosso papel à frente dessa luta pelo resgate do Brasil. O país tem de andar para a frente. E nós precisamos de alento para tocar a vida.

Chega de Bolsonaro! Basta desse governo da morte, da fome, da mentira, do ódio, da destruição e da violência!

 

Claudia Rodrigues é presidente da UBM (União Brasileira de Mulheres) na cidade de São Paulo e preside também o Conselho Municipal de Políticas para Mulheres (CMPM) |, e-mail: claudiarodriguesnina@gmail.com


Comentários

Elder Vieira dos Santos

09/03/2022 - 21h00

Um dos mais bonitos e bem escritos textos que já li. Um verdadeiro programa político para as mulheres e o Brasil. Não somente analisa com propriedade o quadro politico, como apresenta saída política para o movimento feminista e para o povo brasileiro. Parabéns.

Irac Orsi

12/03/2022 - 10h30

Solidaria na luta por mudanças nessa situação em se encontra o Brasil, muito bem abordada neste manifesto, devemos concentrar esforços para eleger um novo presidente, mas também uma bancada de deputados comprometidos com políticas públicas em defesa da população mais vulnerável.

Rita de Cassia Polli Rebelo

12/03/2022 - 18h39

Parabéns, Claudinha, nossa presidente e líder!

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