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CIÊNCIA

Capes e CNPq precisam de aporte de R$ 1,5 bi para reajustar bolsas no próximo ano

Pós-graduandos participaram de debates no Congresso Nacional há 10 anos. Foto: Arquivo pessoal

28 de novembro de 2022 - 22h02

Capes e CNPq precisarão de R$ 1,5 bilhão para reajuste das bolsas de pesquisa em 2023

 

Por Mariana Moura

Quando meu pai estava fazendo seu doutoramento, no final da década de 1970, era possível sustentar uma família com a bolsa de uma agência de fomento. Segundo dados da Confap (Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa), quando a minha mãe defendeu sua tese, na década de 1990, uma bolsa de doutoramento era, em valores corrigidos, de R$ 6.461,00. Em 2019, quando eu defendi a minha tese, a mesma bolsa era de R$ 2.200,00 que, corrigida pelo IPCA do período seria o equivalente a R$ 2.640,00.

Já se passaram 10 anos desde que o movimento de pós-graduação foi a Brasília e, com muita conversa dentro e fora do Congresso Nacional, conquistou um reajuste de 10%. Naquele ano, eu estava terminando o mestrado e começando o doutorado. Estive, junto com um ônibus de pós-graduandos da USP, na Caravana à Brasília organizada pela Associação Nacional de Pós-Graduandos.

Essa mobilização criou, em tempo recorde uma Frente Parlamentar Mista em defesa da pós-graduação que culminou com a conquista do reajuste. Visitamos os gabinetes de todos os parlamentares – deputados e senadores – que estavam em Brasília naqueles dois dias. Nos reunimos com o Ministério da Educação e da Ciência e Tecnologia. Foi realizada uma audiência pública no Congresso para debater a importância do trabalho de pesquisa feito na pós-graduação brasileira.

Desde então, as bolsas de pesquisa no país perderam 67,94% do seu valor. Isso é o que a inflação do período custou aos jovens pesquisadores brasileiros. Se tivesse sido reajustada, uma bolsa de doutorado no país hoje seria de R$ 3.694,68.

Quando eu digo “bolsa”, alguém que estiver lendo e não for da área pode pensar que é uma política de assistência social (todas muito importantes, por sinal). Mas, uma bolsa de pesquisa, especialmente para quem está no mestrado, no doutorado ou no pós doutoramento, é o salário do pesquisador. A gente assina um contrato de “exclusividade” com a agência que paga a bolsa.

Isso significa que não podemos trabalhar em outros lugares enquanto estivermos recebendo a bolsa e realizando nossa pesquisa. Temos que pagar aluguel, contas de água, luz, gás, telefone, comer, usar o transporte público, muitos de nós já têm filhos e, portanto, precisamos sustentar não apenas a nós mesmos, mas uma família.

O Brasil está hoje na 13ª posição no ranking mundial de publicações científicas (Base WoS). Uma boa parte dessas publicações são o resultado de trabalhos realizados na pós-graduação brasileira e, nos últimos três anos temos assistido a dois fenômenos que podem abalar nossa capacidade de produzir conhecimento no próximo período: 1) a saída de pesquisadores recém formados (doutores) do país e; 2) a mudança de profissão de pessoas altamente qualificadas. Em muitos casos o motivo é falta de apoio no Brasil para a continuidade da pesquisa.

Uma das formas de manter esses jovens brilhantes no país é pagarmos um salário justo. Para recompor a capacidade das bolsas de pesquisa de sustentar um pesquisador e reajustar em 67,94% as bolsas no país, a Capes – agência de fomento ligada ao Ministério da Educação – precisa de um aumento de R$ 1.275.105.843,38 no orçamento previsto para 2023 e o CNPq – agência de fomento ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações – de mais R$ 239.854.495,59.

Será, portanto, necessário um aporte de R$ 1,5 bilhão no orçamento dos dois principais órgãos financiadores da ciência brasileira já no início de 2023.

Esta deve ser uma das prioridades do novo governo.

 

Mariana Moura é pesquisadora pós-doc do Centro SOU_Ciência ICT/Unifesp (Instituto de Ciência e Tecnologia da Universidade Federal de São Paulo), pesquisadora da Cátedra José Bonifácio, do IRI/USP (Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo) e membro da coordenação dos Cientistas Engajados. @marianamouracientista


Comentários

João Capece

29/11/2022 - 08h00

Realmente estudar e viver em Brasília com a bolsa que se paga é uma ilusão. O reajuste é necessário para suavizar o custo de vida que inflaciona todos os dias.

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