Rendimento médio do brasileiro atinge patamar mais baixo desde 2012
21 de março de 2022 - 15h03
Como a economia pode impactar na eleição presidencial
Por Hermógenes Saviani Filho
Este ano se iniciou de forma otimista, com a esperança do fim da pandemia, ainda que a variante Ômicron tenha elevado o patamar de infectados e de óbitos, que vinha caindo, mas a vacinação em massa está contribuindo para o impacto ser menor do que ocorreu em 2020 e começo de 2021.
A economia mundial começava a dar sinais de recuperação com a retomada da atividade econômica. No entanto, a invasão da Ucrânia pelo exército russo no final de fevereiro não apenas gerou um clima de instabilidade como de tensão nos mercados.
A questão é sabermos como estes fatores irão se desenrolar ao longo do ano e como isto irá impactar nas eleições de outubro.
A economia é, talvez, o principal fator que decide um pleito, pois o humor do eleitorado varia muito nesta direção.
O auxílio emergencial e a queda na taxa de desemprego, que no último trimestre caiu para 11,1% ante 12,6% no trimestre anterior, fizeram com que o presidente Jair Bolsonaro apresentasse uma lenta recuperação na intenção de voto, ainda que permaneça bem abaixo do candidato da oposição, o ex-presidente Lula.
Se o nível de desemprego diminuiu é necessário observar que foram gerados empregos de baixa qualidade, ou seja, de baixos salários.
Isto leva a outro dado, que está na pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), divulgada no último dia 24, e que aponta que o rendimento médio real do brasileiro atingiu o patamar de R$ 2.587, o menor registrado na série histórica desde 2012.
A previsão do PIB (Produto Interno Bruto) para 2022 é de apenas 0,3%, ou seja, zero de crescimento.
A inflação é um dos principais indicadores de como as pessoas avaliam um governo. Se os preços estão baixos elas conseguem se programar, sentem satisfação com o aumento de sua renda, pelo simples fato de não terem que dispor de uma parcela maior dela na compra de produtos.
No entanto, se tornou um dos principais vilões do atual governo. A estimativa do mercado financeiro para o aumento de preços passou de 5,50% para 5,56%, segundo o relatório Focus, divulgado pelo Bacen (Banco Central).
Se este número for confirmado será o segundo ano consecutivo em que será estourada a meta de inflação. Em 2021, ela rompeu a marca de um dígito, fechando em 10,06%, puxada pela alta do preço das commodities (alimentos e petróleo) e energia elétrica.
A meta central para este ano é de 3,5%, podendo oscilar entre 2% e 5% para ser oficialmente cumprida. Se não houvesse fatores externos, ela já estaria bem acima do teto, quiçá com a guerra e a explosão dos preços de produtos como petróleo, gás natural, grãos e óleo de cozinha.
No dia do ataque, o preço do barril do petróleo superou a casa dos US$100, algo que não ocorria há sete anos. Se levarmos em consideração que Rússia e Ucrânia estão entre os principais produtores do mundo, o impacto no pão nosso de cada dia será fortemente afetado.
Além disso, é necessário lembrarmos que a pressão sobre os preços leva o Bacen a elevar a taxa de juros, o que impacta nos investimentos e reduz o nível de atividade econômica, forçando uma queda ainda maior no PIB.
O quadro está indefinido em termos não apenas externos mas, principalmente, internos e fica difícil fazer uma previsão do que podemos esperar sobre o resultado eleitoral de outubro.
Mas podemos imaginar uma situação complicada para a reeleição do atual presidente. Isto porque a sua recuperação vem ocorrendo de forma lenta, em todas as pesquisas, e permanece dentro da margem de erro.
Se levarmos em consideração que a imensa maioria da população não faz análises sofisticadas sobre o que acarreta o aumento de preços e gera crescimento e desenvolvimento econômico que impactam na geração de emprego e renda, a tela pintada tem um tom fortemente gris.
Ou seja, quanto mais rápido passar o tempo e o quadro permanecer com pouca alteração e com viés negativo, mais se consolida a liderança da candidatura oposicionista
Hermógenes Saviani Filho é professor-adjunto do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)