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ECONOMIA

Inflação, carestia e desemprego serão decisivos na definição da eleição presidencial

Desemprego permanece elevado no país. Foto: Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar)

26 de abril de 2022 - 04h15

Economia será o que definirá a corrida presidencial

 

Por Hermógenes Saviani Filho

Não são os atropelos e arroubos autoritários do presidente que colocam em risco a sua reeleição, mas a economia que continua sendo a principal pedra no sapato.

Se por um lado o setor de serviços, que é o de maior peso em nosso PIB, e que está indo bem e mostra que se recuperou desde o início da pandemia; por outro lado, a inflação continua a seguir sua trajetória de alta e o índice de desemprego cai lentamente.

Muitos se perguntam como um presidente que comete sistematicamente ilegalidades não é punido, mas esquecem de levar em consideração que a lei não é levada tão a sério por nossa sociedade.

É claro que muito tem a ver com o excesso de leis sem qualquer tipo de fundamentação ou diante de sua total impraticabilidade, mas apenas isto não explica o descaso em cumpri-las, pois acabamos, culturalmente, sendo tolerantes com quem não as cumpre.

Dessa forma, as nossas instituições expressam o que nós somos e muitos defendem e apoiam as medidas que o presidente adota, como, por exemplo, conceder o indulto ao deputado condenado pelo STF.

Quando ocorre de exigirmos que se cumpram as leis e que ocorra a efetiva punição é quando há uma enorme participação dos meios de comunicação e dos agentes econômicos que têm voz em nossa sociedade com objetivos próprios.

As pessoas imaginam estarem pensando com suas cabeças e tomando decisões, quando, na verdade, estão sendo manipuladas.

Muito diferente é quando está desempregada ou subempregada e não consegue pagar as contas e comprar o básico.

Outro aspecto importante é quando percebe que está empobrecendo pelo aumento dos preços, sem a reposição em seu salário, ou ainda quando ocorre a desvalorização da moeda nacional frente ao dólar e produtos que antes eram adquiridos do exterior se tornam mais caros bem como suas viagens internacionais.

O que verificamos nos últimos dias foi uma pressão sobre o índice de preços, como o IPC-FIPE, que na terceira quadrissemana de abril apresentou uma elevação de 1,72%, o maior índice numa quadrissemana desde 2003 para este mês.

O resultado é muito maior do que o mercado esperava e que pressiona a inflação cheia. O preço do milho subiu num percentual que foi o maior em 10 anos e acarreta aumentos em cascata, pressionando toda a cadeia produtiva.

Além disso, os preços dos produtos importados tiveram um aumento, em dólar, no primeiro trimestre de 30% o que impactou ainda mais na elevação dos preços e levou a um aumento na desvalorização do real ante a moeda estadunidense.

Este quadro nos leva a imaginar que ocorra um aumento da taxa selic na reunião de maio, atingindo um patamar entre 13,25% e 13,50%.

Este aumento dos juros levará a um ritmo mais lento no crescimento da atividade econômica o que fará com que nossa economia estenda o já extenso período de retomada da atividade econômica, que vem desde a recessão que correu entre o segundo semestre de 2014 e 2016.

O aspecto positivo é o setor de serviços, que teve uma leve queda de 0,1% em março, mas que não foi suficiente para derrubar o seu desempenho em janeiro e fevereiro, o que faz com que o pais não deva apresentar recessão no primeiro trimestre.

Nos últimos 12 meses este setor que tem o maior peso em nosso PIB apresentou um crescimento de 12,2%, o que mostra a recuperação do período pandêmico.

Externamente, há a continuidade da guerra entre Rússia e Ucrânia, que permanece sem uma perspectiva de um fim e o anuncio do FED de aumento dos juros nos Estados Unidos de 0,25% para 2,25% até setembro, com aumentos de 0,5% ao mês de junho a setembro.

Estas medidas, anunciadas no último dia 22 levaram a uma queda na Bolsa de Valores de 3% e a uma desvalorização do real ante o dólar de 4%, que fez o câmbio atingir R$ 4.80. A desvalorização irá pressionar ainda mais o índice de preços.

Com esse quadro, a eleição presidencial de outubro continuará acirrada entre o atual presidente, Jair Bolsonaro, e o candidato da oposição, o ex-presidente Lula.

O governo apresentou uma melhora em sua avaliação, mas o aumento de inflação e a queda lenta no índice de desemprego vão mostrar daqui há um ou dois meses se essa avaliação irá permanecer.

 

Hermógenes Saviani Filho é professor-adjunto do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)


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