Golpistas destroem democracia, para manterem boquinha no Estado
28 de abril de 2022 - 09h59
Decretada a intervenção federal na Segurança Pública do Estado do Rio Verde
Por Manoel Cyrillo de Oliveira Netto
No final da tarde de ontem (17h45), a notícia estourou como uma bomba: o presidente Micael Têmis decretou a intervenção federal na Segurança Pública do Rio.
No Congresso Nacional, era o assunto corrente em todas as rodas e panelas, de todas as conversas. Nos corredores, anexos e gabinetes, ecoava a velha polarização, “…outra jogada do Micael Têmis”, diziam uns, enquanto outros, os aliados, ponderavam, “…o caos não poderia perdurar…”
Neste exato momento, deve estar desembarcando na Base Aérea do Gavião, o general Praga Netto, o interventor. Seu poder e força serão fantásticos, ele –pessoalmente- comandará a Polícia Militar, a Polícia Civil, inclusive a Polícia Técnica e o Corpo de Bombeiros, milhares e milhares de homens.
E, certamente, ainda contaria com o singelo respaldo das tropas, tanto do Exército (glorioso e invicto!), como da Marinha e da Aeronáutica, acantonadas em Rio Verde ou não. Em outras palavras, Praga Netto era o homem!
O general Praga Netto enfrentará as milícias? E será que o Exército irá patrulhar as ruas? E o povo das comunidades, será respeitado? Meu deus, o que vai acontecer nesta cidade?
Os comentaristas políticos dos jornalões não sabiam o que dizer, Dois ou três dos mais poderosos bicheiros chegaram a aventar a hipótese de, temporariamente, suspender o jogo.
Diz a sabedoria popular que, na muda, passarinho não canta – e o tráfico se conteve, deixou de realizar as operações mais ostensivas e espalhafatosas. O clima era tenso, de muita expectativa.
Praga Netto entrava em sua sala de comando fazendo muito barulho, não só o potoc-potoc dos saltos de couro de suas botas (marcha ouvida a corredores de distância), como dando suas ordens aos berros ou soltando exclamações e gritos que assustavam e intimidavam a todos, mesmo os mais calejados milicos e policiais.
Os caveirões invadiam e aterrorizavam comunidades e zonas pobres da cidade, os tiroteios em áreas densamente povoadas continuavam – e até se multiplicavam – e as “balas perdidas” abatiam transeuntes, matavam um ou outro morador jovem, um idosos qualquer e muitas crianças. Professoras desesperadas eram obrigadas a fechar suas escolas.
“- Manda bala! bufava o interventor. O juiz Soro, no futuro, poderá enquadrar os involuntários acidentes como “excludentes de ilicitudes!”.
Menos de um mês depois de decretada a intervenção, tudo correndo super bem, uma vereadora comunista da cidade é morta a tiros, ela e o motorista de seu gabinete. A reação do interventor foi pronta. “Filhos da puta, vocês querem foder comigo, seus sacanas!”
E, imediatamente, começam as rigorosas investigações. Detalhe: as câmeras de segurança das ruas do percurso do veículo oficial da vereadora (aquela comuna!) estavam desativadas – curioso, não?
E, hoje, anos luz depois, ainda não nos foi dito quem fez aquilo. Lá no Brasil, a polícia tem a prática de fazer uma tal de “reconstituição do crime”, aqui no Rio Verde não fizeram nada. Ainda, ainda…
E as rigorosas investigações prosseguem. “- Porra, temos que afastar do caso esse delegadozinho enxerido! Tira esse cara da minha frente!” .
“- E essas procuradoras de merda, estão pensando que são o quê? Que estas mocinhas voltem para o mofo de seus gabinetes!”
Bem, o procurador geral do Estado não gostou nada do que lhe foi assoprado no ouvido. Mas, quem tem juízo, obedece.
“- Vamos ter que sacar esse novo delegado, nunca vi um sujeitinho assim. O filho da mãe já chegou ao condomínio do peixe (do peixe do general Villas Buenas). Se a gente não abrir os olhos, daqui a pouco um idiota qualquer chega à casa do peixe.”
Fake news pra cá, fake news pra lá, um crimezinho eleitoral aqui, outro acolá e o peixe é guindado à Presidência da República, 50 e tantos milhões de votos, ganhou de lavada. O Villas Buenas é um estrategista do caralho!
“- Eu só espero que o babaca desse peixe se lembre que Eu estou com o seu rabo preso, bem preso.”
O peixe estava de rabo preso. E o que a vida mostrou?
No dia seguinte à posse do peixe, Praga Netto assumiu a sua pasta no ministério. Qual? Tanto faz! O que importa é estar no governo, concorda?
Além de um belo aumento de soldo, o cidadão passa a ter poder, exala poder e passa a ter direito de exercer o poder. Poder e vigor – naquele posto, Praga Netto terá mais armas e munições para lutar por sua pílula azulzinha na faixa. Free.
O silêncio vale ouro.
Manoel Cyrillo de Oliveira Netto é publicitário, resistiu à ditadura militar, foi guerrilheiro urbano da ALN (Ação Libertadora Nacional), participou de várias ações armadas, entre elas a captura do embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick. Preso político, permaneceu encarcerado por 10 anos. Fora da prisão, ganhou a medalha de ouro com a peça publicitária Çuikiri no 37th New York Festivals Advertising Awards, o Festival Internacional de Propaganda de Nova York, e foi recebê-la nos Estados Unidos em 1991.