Galo, liderança dos entregadores, denuncia em vídeo ter sido torturado em delegacia; “Mandaram fazer o L”
04 de março de 2023 - 21h18
Por Lúcia Rodrigues
O entregador Paulo Galo relatou em vídeo em uma rede social, na noite deste sábado, 4, ter sido torturado em uma delegacia de polícia após ter sido detido por andar de moto sem capacete.
Ele conta que começou a ser agredido ainda na abordagem, que ocorreu no último dia 15 dentro do túnel na avenida Rebouças, próximo ao shopping Eldorado, na zona oeste da capital paulista. “Fui torturado das seis horas (da manhã) ao meio dia.”
Ainda de acordo com Galo, o episódio deve ter sido registrado pelas câmeras da via, pelas câmeras dos uniformes dos policiais e pelas câmeras da delegacia, porque a sessão de tortura não teria ocorrido em uma sala escondida.
“Fui levado para uma delegacia aqui da quebrada e lá descobriram que eu fiz a ação (de queimar a estátua) do Borba Gato e aí começaram a sessão de tortura. Começaram a me agredir, me espancar, fazer filmagem minha sendo humilhado no meio deles. E os caras começaram a me queimar com um equipamento que parecia um esmeril, só que era de plástico, que girava muito rápido, encostavam no meu braço e queimava. E falavam pra fazer o L.”
Ele explica que não relatou antes as torturas sofridas, por receio de sofrer retaliação dos policiais envolvidos nas agressões.
“Por que não denunciei na hora? Por que (sic) a meu ver isso faria barulho de 1 ou duas semanas e depois como eu e minha família ficaríamos com esses caras rondando aqui”, escreveu em outra postagem na mesma rede social.
No vídeo, Galo relata que um dia após a violência sofrida, outro entregador da região com a habilitação vencida, acabou sendo morto pela polícia após fugir de uma abordagem. “Os caras mataram o mano com 16 tiros. Isso começou a martelar na minha cabeça.”
Ele diz não entrar em casa sem se certificar de que não há ninguém estranho por perto. “Não desço da moto sem saber se todos os carros que estão na rua, são carros que eu conheço.”
Galo resolveu denunciar hoje a violência policial, após conviver dias com um sentimento de culpa por ter ocultado o que havia sofrido.
“Fiquei me sentindo um lixo, me sentindo um covarde. Eu com o nome Galo de Luta, deveria até tirar, se eu tô com tanto medo assim. Tô sendo um covarde, só pensando na minha família. Hoje chegou no meu limite”, enfatiza ao se referir à decisão tomada.
Nas fotos postadas por ele na rede social, há bolhas de queimaduras no braço e hematomas na mão, orelha, nos lábios e no braço.