Morre Cabo Anselmo, principal infiltrado da ditadura, que delatou a própria companheira grávida
16 de março de 2022 - 23h09
Por Lúcia Rodrigues
Morreu nesta terça-feira, 15, aos 80 anos, em Jundiaí, interior de São Paulo, Cabo Anselmo, o principal agente infiltrado da ditadura militar.
O marinheiro José dos Santos Anselmo foi seguramente o delator que mais vítimas provocou entre as organizações de esquerda armada durante os Anos de Chumbo.
Por quase uma década, Cabo Anselmo conseguiu dissimular sua verdadeira intenção entre a militância de esquerda.
Chegou a fazer treinamento guerrilheiro em Cuba, tamanho o grau de confiança que desfrutava entre os camaradas.
Antes de ser descoberto, no entanto, provocou inúmeras baixas entre a esquerda.
Mas foi contra a VPR, a Vanguarda Popular Revolucionária, do capitão Carlos Lamarca, que Anselmo talvez tenha cometido uma das maiores atrocidades no seu vasto currículo de traidor.
Ele entregou para a morte a própria companheira, grávida de um filho seu.
A paraguaia Soledad Barrett teve o corpo crivado de balas junto com outros cinco ativistas da organização, entre eles, Pauline Reichstul, irmã do ex-presidente da Petrobras na gestão de Fernando Henrique Cardoso, Henri Philippe Reichstul, em janeiro de 1973. Seu corpo foi encontrado ao lado feto.
A emboscada, promovida pelo grupo do delegado Sérgio Paranhos Fleury, ficou conhecida como o massacre da Chácara São Bento, uma propriedade localizada em Paulista, região metropolitana de Recife, em Pernambuco.
O torturador Carlos Alberto Augusto, o Carlinhos Metralha, amigo de Anselmo e que o protegeu após ele ser descoberto como infiltrado, é acusado de ser o assassino de Soledad e demais militantes da VPR.
Em 2012, Cabo Anselmo teve o pedido de indenização negado pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça. Ele alegava ter resistido à ditadura militar e queria receber R$ 100 mil do Estado brasileiro.