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ELEIÇÃO EM PORTUGAL

Nos 50 anos da Revolução dos Cravos, portugueses dão força ao fascismo nas urnas

O líder do partido fascista Chega, André Ventura

10 de março de 2024 - 23h52

Por Lúcia Rodrigues

No ano em que a Revolução dos Cravos que derrotou a ditadura salazarista completa cinco décadas, a extrema direita  obtém uma votação expressiva nas urnas das eleições legislativas deste domingo, 10.

O partido fascista Chega, liderado pelo ex-comentarista futebolístico e extremista André Ventura, conquistou mais de um milhão de votos, que lhe garantiram 48 deputados, o equivalente a mais de um quinto das 230 cadeiras da Assembleia da República, o parlamento português.

A ascensão meteórica fascista começou em 2022, quando ampliou para 12 parlamentares a representação no Parlamento, ante a eleição de 2019, quando havia conseguido eleger apenas Ventura.

Esse crescimento surpreende inclusive por ter avançado sobre bastiões da esquerda, como Beja, no Alentejo.

Pela primeira vez na história pós 25 de Abril, o PCP (Partido Comunista Português) não elegeu nenhum deputado nesse distrito (o equivalente ao Estado no Brasil). Já os fascistas carimbaram o passaporte de um parlamentar para a Assembleia da República.

Embora o PS (Partido Socialista), de centro esquerda, tenha despencado de 120 cadeiras, que lhe conferiam a maioria absoluta na antiga legislatura,  para uma representação de 77 parlamentares,  ainda não dá para cravar  que a ascensão da extrema direita foi conquistada entre seus eleitores.

A explicação para o crescimento exponencial da extrema direita pode estar na queda da abstenção, que neste domingo registrou 33,77% ante os 48,54% de 2022.

A direita tradicional aumentou em duas cadeiras a participação em relação à eleição passada até o momento. Ainda faltam ser apurados os votos dos portugueses que vivem fora de Portugal e que elegem mais quatro deputados para o Parlamento.

Esses votos, que chegam pelo Correio, serão apurados entre os dias 18 e 20 de março. Tradicionalmente a votação se divide entre PS e PSD (Partido Social Democrata), de direita, que este ano integra a coligação AD (Aliança Democrática), que reúne outros partidos conservadores.

Não se sabe se o impacto do Chega terá reflexo na votação do círculo eleitoral do exterior. Em Portugal, o partido fascista só não conseguiu eleger parlamentares em um único distrito: Bragança.

O Algarve, distrito com as praias mais conhecidas do país, virou um reduto do Chega, uma espécie de Santa Catarina do bolsonarismo.

Chega fora do governo

A ascensão nas urnas não deve se confirmar na composição de governo. Em coletiva de imprensa, o líder da Aliança Democrática, Luís Montenegro, vencedor das eleições, descartou compor gabinete com o partido de Ventura. “Cumprirei minha palavra”, afirma ao se referir as declarações contrárias a essa composição dadas durante a campanha eleitoral.

Momentos antes, o cabeça de lista do PS, Pedro Nuno Santos, já havia declarado que não pretendia  obstacularizar o governo da AD, que tem o PSD na liderança do grupo.

“O Partido Socialista será oposição, renovaremos o Partido e procuraremos recuperar os portugueses descontentes com o Partido. Não há 18% de portugueses racistas e xenófobos em Portugal, mas há portugueses zangados. Queremos recuperar esses portugueses”, frisa Nuno Santos.

De olho na fragilidade do futuro gabinete da AD, que pode cair e possibilitar eleições antecipadas, ele declara que o PS pretende liderar a oposição ao novo governo. “O nosso caminho começa agora, hoje. O PS não deixará a liderança da oposição para o Chega.”

Em seu discurso, Ventura tentou atrair a AD para uma composição governativa. “Só um líder irresponsável deixará o PS governar. Não podemos ter mais quatro anos de socialismo em Portugal. O país será libertado da extrema esquerda. Reduzimos a extrema esquerda a sua insignificancia.  Houve um ajuste de contas com a história.”

“Esta noite acabou o bipartidarismo em Portugal”, emenda, em uma clara alusão a expressiva votação do Chega que coloca o partido como a terceira força política do Parlamento.

Ventura aproveitou ainda para destilar críticas contra jornalistas e institutos de pesquisas. “O partido mais perseguido, espero que os jornalistas e alguns comentaristas engulam as palavras, hoje somos mais de um milhão em Portugal. Também espero que alguns diretores de empresas de sondagem (pesquisa) se demitam.”

A líder do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, atribuiu o resultado pífio do PS a uma política desastrosa de maioria absoluta obtida na eleição passada.

“Mas o Bloco de Esquerda resistiu e mantevesse firme nesta eleição, com 30 mil votos a mais, mantendo os (cinco) mandatos. Seremos parte da solução para afastar a direita do governo”, frisou na esperança de que o PS quisesse formar governo com os partidos de esquerda.

O secretário geral do PCP (Partido Comunista Português), Paulo Raimundo, considera a vitória da AD um ataque aos direitos dos trabalhadores.

As eleições deste domingo ocorreram após o primeiro ministro socialista, Antonio Costa, renunciar em meio a denúncias de corrupção feitas pelo Ministério Público, que o associou erroneamente ao escândalo.

Descobriu-se posteriormente que se tratava de seu homônimo, o ministro da Economia, Antonio Costa Silva.

A supressão do último sobrenome na transcrição feita pelo Ministério Público das escutas telefônicas em que dois interlocutores falavam sobre a busca de interferência de um membro do governo para obter favorecimento, permitiu que o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, antecipasse as eleições legislativas para este domingo.

Acompanhe a seguir como foram preenchidas as cadeiras pelos partidos até o momento.

AD (Aliança Democrática)  – 79

PS (Partido Socialista) – 77

Chega – 48

IL (Iniciativa Liberal) – 8

BE (Bloco de Esquerda) – 5

Livre – 4

CDU (Coligação Democrática Unitária, a coligação do PCP com os Verdes) – 4

PAN (Pessoas-Animais- Natureza) – 1

 

 

 

 

 

 


Comentários

Luiz Gonzaga dAvila Filho

11/03/2024 - 11h41

A “hidra” tem mais de sete cabeças e renasce em toda parte, sobre as pegadas de Salazar, Mussolini e quetais… Quando nos livraremos desses estúpidos. Nunca ?? !!!

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