Rússia e Ucrânia travam batalha mais longa e sangrenta para ambos os lados
24 de abril de 2023 - 17h20
A batalha de Bakhmut
Por Caio Bugiato
Após os vultosos auxílios financeiros e militares da Otan ao governo ucraniano e o recuo russo para o leste do país, o epicentro da guerra na Ucrânia se tornou a cidade de Bakhmut (ver mapa 1). A cidade é parte de uma região na província de Donetsk, a qual é reivindicada em sua totalidade pelo governo Putin.
Depois de tomar no início de 2023 a cidade de Soledar na mesma província, as forças russas lutam pelo controle de Bakhmut. A cidade é logisticamente importante para abrir caminho em direção à Kramatorsk e Sloviansk, bastiões ucranianos em Donetsk. Além disso, passa por Bakhmut a rota para o interior do país, inclusive para Kiev.
Mapa 1
Fonte: AEI´s Critical Theats Project e Institute for the Study of War
Bakhmut tinha uma população de cerca de 70 mil habitantes, mas hoje conta com cerca de 4 mil. Foi abandonada pelos civis ao longo de meses de intensos combates entre as forças russas e ucranianas/Otan.
Descrita como a campanha mais sangrenta da guerra na Ucrânia, a batalha tem sido a mais longa e mortífera para ambos os lados e parece ser agora uma guerra de trincheiras.
Em fevereiro, depois de ficarem atoladas nessa luta, os russos começaram uma tentativa de asfixiar o abastecimento de Bakhmut. O bloqueio do abastecimento ucraniano começou na área de Chasov Yar e Berkhovka, dois povoados através dos quais passa as linhas de comunicação para a cidade.
Os russos tentam tomar as regiões ao norte a ao sul de Bakhmut, conseguindo avanços (mapa 2). O objetivo é colocar a cidade em um cerco tático de modo que as tropas ucranianas fiquem isoladas do fornecimento de munições, medicamentos e combustível.
Mapa 2Fonte: Al Jazeera e Institute for the Study of War
Do lado das forças ocidentais, Kiev resiste aos ataques e espera a chegada de mais armas do Ocidente, incluindo os tanques da coalizão Ramstein, assim como forças ucranianas adicionais treinadas para utilizar estas armas. O objetivo é conter o avanço russo e, com estas armas e unidades militares treinadas, conduzir um contra-ataque.
A Ucrânia recebeu 49 dos 258 tanques de batalha prometidos pela coalizão. Recentemente o Reino Unido anunciou ter terminado o treino de um segundo grupo de soldados ucranianos. A Polónia disse ter transferido quatro caças à Ucrânia.
Entre estes e outros suportes ocidentais, os Estados Unidos – os maiores financiadores econômicos e militares da guerra – anunciaram que forneceriam mais 500 milhões de dólares em munições, artilharia de foguetes, sistemas antiaéreos e outros sistemas.
O porta-voz do Pentágono, Pat Ryder, disse que existem cerca de 11 mil ucranianos em treinamento em 26 países. Ademais, os supostos documentos ultrassecretos vazados do Pentágono, no fim de março, indicam que os países da Otan têm forças especiais operando dentro do território ucraniano: 50 soldados do Reino Unido; 17 soldados da Letônia, 15 da França; 14 dos Estados Unidos e um dos Países Baixos.
Diante da ofensiva ocidental, o Estado russo proclama uma nova doutrina de política externa. Ela afirma que a Rússia tem como objetivo criar as condições para qualquer Estado rejeitar objetivos neocolonialistas e hegemónicos; que os EUA são o principal instigador, organizador e executor da agressiva política anti-russa do Ocidente coletivo; e defende o que chamou de mundo russo e valores espirituais e morais tradicionais contra atitudes pseudo-humanistas e outras atitudes ideológicas neoliberais.
O governo Putin não pretende abrir quaisquer conversações de paz sobre a Ucrânia que não se concentrem na criação de uma nova ordem mundial. O governo Zelensky já anunciou que não negocia enquanto Putin estiver no poder. Enquanto isso a batalha de Bakhmut continua.
Caio Bugiato é professor de Ciência Política e Relações Internacionais da UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro) e do programa de pós-graduação em Relações Internacionais da UFABC (Universidade Federal do ABC)