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HISTÓRIA

Foi invasão, não descobrimento, afirma escritor indígena sobre chegada dos portugueses ao Brasil

22 de abril de 2022 - 00h05

A invasão dos portugueses em 1500

 

Por Olivio Jekupe

Em 1500, 22 de abril, apareceu nestas terras, que hoje se chama Brasil, os primeiros jurua kuery (não índios). Eles vieram de um lugar muito longe daqui chamado Portugal.

Mas a chegada de Pedro Álvares Cabral e seus amigos não foi nada boa para nós que somos chamados de índios.

Foi nessa época que trouxeram doenças e nos roubaram. Houve o início da matança, com doenças ou armas. E por isso estamos sofrendo até os dias de hoje, morrendo de doenças e muitos ainda continuam sendo assassinados.

E os nossos antepassados indígenas receberam os portugueses muito bem, só que eles não imaginavam que naquele momento se dava início à destruição e que o interesse deles era na verdade explorar e roubar todo esse imenso território.

Para os jurua kuery, como eles mesmo dizem: 22 de Abril  é o dia do descobrimento do Brasil. Mas para nós indígenas não, porque esse é o dia da invasão dos portugueses.

Antes deles invadirem aqui, toda essa terra tinha dono, de varias nações que aqui viviam, mas hoje tudo é diferente. Sei que no Brasil temos muitos problemas por falta de terra, algo que a sociedade nunca entendeu, e agora podemos dizer que vivemos num país que já foi nosso.

Não adianta dizer que o índio é o verdadeiro dono dessas terras, se na verdade, para conseguir demarcar uma terra é a coisa mais difícil, pois muitos políticos e fazendeiros lutam contra.

Por isso, não me alegro com a palavra descobrimento do Brasil, porque foi uma verdadeira invasão e que os livros de história não mostram.

Aliás, alguns anos antes de 1500, Portugal assinou com a Espanha o Tratado de Tordesilhas ficando com essas terras, sem nunca terem vindo aqui.

Por isso, seria interessante se os professores começassem a falar a realidade para os alunos com quem eles trabalham, porque eles têm uma grande missão que é mostrar a verdadeira história.

Do contrário, as crianças continuarão sendo enganadas, e nós indígenas continuaremos sendo tratados como os culpados.

Por isso, é preciso que os escritores que escrevem sobre os povos indígenas do Brasil, escrevam sem medo de dizer a verdade.

Um escritor que escreve muito bem sobre os povos indígenas é o Benedito Prezia. Escreve com clareza e os leitores podem aprender muito.

Inclusive nós indígenas temos uma grande missão, que é escrever histórias que mostrem isso, e que não são ensinadas nas escolas. Através de um livro podemos lutar em defesa de nosso povo que sempre foi explorado e enganado.

Aliás tem um livro que publiquei com o título A invasão. É um bom começo, porque temos que mostrar ao Brasil que nossas terras foram invadidas pelos portugueses e não descobertas como contam nos livros de história.

Sei que os governantes não farão isso. Por isso, nós escritores indígenas podemos fazer.

E mostrando a verdade para as crianças, elas entenderão melhor nosso sofrimento que se iniciou em 1500.

E os professores se querem falar melhor sobre as questões indígenas e seguir a lei 11.645, então leiam livros de autores indígenas, porque tenho a certeza de que abrirá mais a mente e entenderão melhor muitas coisas. E basta de invenção enganosa que faz com que o povo cresça com mais preconceito contra nós indígenas.

E termino com uma poesia minha, extraída do meu livro chamado 500 Anos de Angústia, e com tradução do meu filho Tupã Mirin em guarani.

1-A morte de Galdino
Ah, como fiquei triste com a matéria do nosso
Parente Pataxó da Bahia, que morreu brutalmente
Queimado, como se não fosse gente.
É, mas como tem gente perversa neste mundo
Nhanderu, nosso Deus.
O que eles fizeram com nosso parente, não é,
Papel de ser humano, também não digo que é
De animal, mas sim de um monstro e que são
Capazes de matar seus próprios pais.
Mas isto não pode ficar assim, é preciso que se
Faça justiça e que estes assassinos sejam condenados,
Aliás, sei que será difícil, pois estamos no Brasil.
Mas se a justiça brasileira  não fazer nada, sei
Que a justiça de Deus fará, porque Ele sempre
Está ao lado dos oprimidos, que são explorados,
Humilhados  ou assassinados como aconteceu com
O nosso parente Galdino Pataxó.
Sei que a justiça de Deus não falha, por isso,
Podem aguardar seus assassinos…

1- Opa’i ague Gaudino
A, xeporiau ete rei matéria ojekua rã,
Nhaneretarã pataxo Bahia pugua re, omano vaikue
Oapy pa, kaa guy régua rami.
Heta jurua kuery vaija
Nhanderu, nhanderu ete
Há’e kuery nhaneretã rãre ojapo va’e ma
Mbya hey ma, há’e
Ka’aguy régua nda’eiavi, ivaikueva’e rive ipy’a guaxu
Guu kuery ete ve ojuka aguã.
Há’e rami gua daevei nami opyta aguã, há’e ramo ma
Oikuaa pota rã rangue jojukarei va’e kuery ombo’a aguã
Va’eri, aikuaa yma rã axy, kova´e yvy re jaikorã,
Há’erã ndoikua pota aai, Nhaderu oikuaa pota rã, há’e
Iporiau va’e kuery re oma’e, ojavyky rei ramo,
Oguereko axy, há’e ojuka
Nhanerentarã xamõi Galdino Pataxo rami,
Nhanderu ojapo ague ndopai kova’ere,
Pemõi porã jojuka va’e kuery.

 

Olivio Jekupe é escritor de literatura nativa, da aldeia Kakané Porã – Curitiba, palestrante e autor de 24 livros (www.oliviojekupe.blogspot.com).

 


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Luma

01/04/2024 - 14h42

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