Bancos têm maior lucro em 15 anos, mas miséria explode e mais de 200 mil pessoas vivem nas ruas do país
29 de março de 2022 - 09h46
Lucro dos bancos, barbárie social e a chamada dívida pública
Por Maria Lúcia Fatorelli
Enquanto jornais noticiam que grandes bancos têm maior lucro nominal em 15 anos, a sociedade brasileira passa por grande penúria e escassez, com cerca de 12 milhões de desempregados, dentre os quais mais da metade são mulheres (6,547 milhões); além de 5 milhões de pessoas que já desistiram de buscar emprego, das quais mais de 3 milhões são mulheres.
Estatísticas apontam que cerca de 222 mil pessoas se encontram em situação de rua no Brasil, mas a sensação é de que seria muito mais, pois em toda parte assistimos famílias inteiras abandonadas ao relento, remexendo lixo em busca de restos para se alimentar, cena reveladora da barbárie existente em um dos países mais ricos do mundo, sob todos os aspectos!
A relação entre o avanço contínuo do lucro dos bancos e o desemprego é direta. Dentre os principais fatores responsáveis pelo lucro dos bancos sobressai o patamar elevado dos juros praticados no Brasil.
Somente os bancos lucram com os juros altos, enquanto empresas entram em dificuldade e até fecham as portas, gerando mais desemprego.
Os juros altos impedem que as empresas acessem créditos para manter seu capital de giro, e inviabilizam a expansão dos negócios ou a criação de novos, que possibilitariam a contratação de pessoas.
Os juros de mercado praticados no Brasil são, historicamente, extorsivos por várias razões, em especial a falta de limitação legal e falta de atuação do Banco Central que, em vez de atuar como autoridade monetária em favor do país, favorece os bancos com a remuneração diária de sua sobra de caixa: a injustificada e ilimitada Bolsa-banqueiro, paga à custa da chamada dívida pública!
Por que os bancos iriam reduzir juros de mercado para emprestar à sociedade se podem receber remuneração diária garantida pelo Banco Central, sem risco algum? Só emprestam a taxas extorsivas!
Em plena pandemia, quando a economia precisaria de estímulo e crédito a juro baixo, o Banco Central passou a disparar a taxa básica de juros Selic, sob a falsa justificativa de “controlar a inflação”.
Os juros já subiram mais de 440% e, ainda assim, a inflação persiste, logicamente, pois ela advém principalmente da alta de preços administrados (combustíveis, em decorrência da insana política de paridade de importação adotada pela Petrobras; energia e outros, que não são controlados como deveriam ser) e do preço dos alimentos, devido a graves erros de política agrícola e agrária.
Agora o Banco Central já está falando em subir mais ainda os juros por causa da inflação provocada pela guerra…
Subir juros não faz com que esses preços, que têm produzido inflação no Brasil, se reduzam! Juro alto amarra o Brasil, aumenta os lucros dos bancos e faz explodir a chamada dívida pública que, por sua vez, passa a ser usada como justificativa para o “teto” de gastos sociais; contrarreformas, privatizações insanas, tudo para que sobre mais dinheiro para pagar essa dívida, que precisa ser auditada, como manda a Constituição.
Maria Lúcia Fatorelli é auditora fiscal aposentada da Receita Federal e coordenadora nacional da Auditoria Cidadã da Dívida